Em um intervalo não tão grande de tempo, pude me sentar para escrever outro texto sobre meu consumo de mídia com estranhos da internet e os poucos conhecidos que acessam meu blog. Diferente do meu ÓTIMO artigo sobre Look Back, não pesquisei nada ou estudei sobre algo muito específico para escrever. Como os outros devaneios até agora, quero falar sobre o novo lançamento da Nomada Studio que acabei de zerar, "Neva".
Joguei o primeiro jogo do estúdio na época do lançamento, "Gris", e desde então estava curioso sobre os próximos passos da empresa. Acabei tomando conhecimento do novo título pouco antes de seu lançamento e acabei não consumindo muitos trailers ou imagens antes de jogar, o que deve ter agregado bastante no impacto que tive ao abrir o software no computador. Imagino o quão desafiador deve ter sido superar "Gris" em beleza e mecânicas de jogo, mas a Nomada completou lindamente a tarefa!
Ao iniciar, o jogador que teve contato com a jogabilidade e narrativa de "Gris" se sentirá familiarizado com o ambiente de plataforma 2D apresentado e a história fortemente relacionada a perda de uma figura querida. A física dos movimentos da personagem que controlamos lembra muito a da protagonista do jogo anterior, com um aspecto mais rígido e uma movimentação lateral mais ágil, porém, com a diferença de que temos um acompanhante nos desafios. Neva é um filhote de um grande lobo com chifres de cervo que aparentava ser nosso antigo companheiro, morto no começo do jogo. Inicialmente como filhote, o lobinho é uma criatura extremamente vulnerável aos perigos do mundo, criando a necessidade do jogador auxiliá-lo e protegê-lo na primeira parte da história. Essa diferença faz necessária a introdução de um elemento que muda totalmente a dinâmica das fases em relação a "Gris" e aparta "Neva" de seu predecessor, as mecânicas de combate.
A nova protagonista assume um papel mais combativo na história e dá ao jogador mais agência em momentos de conflito ou tensão, que contrastam positivamente com as partes em que ficamos incapazes de realizar qualquer ação contra adversários poderosos. Com o pequeno e frágil Neva, você não pode fazer muito além de protegê-lo dos inimigos e ensiná-lo a se movimentar pelas plataformas. Até o ponto em que é apresentado o primeiro salto temporal, que marcam nosso avanço, e a cada estação que passa nosso companheiro canídeo cresce e libera novas habilidades que auxiliam nos desafios. Não só isso cria um senso de progressão muito bom como estreita nossa relação com Neva, agora nossa fiel escudeira nas batalhas.
Além de corroborar para uma sensação de melhora e crescimento, a passagem do tempo e o envelhecimento de Neva reforça também os temas de finitude e ciclos. Com a morte do grande lobo, nos tornamos mãe de Neva e acompanhamos seu desenvolvimento até a fase adulta, crescimento sempre marcado pela troca de estação. Quando falamos das estações de ano, não estamos apenas abordando a passagem de tempo, mas também pequenos arcos que compõem o início e o fim de um ciclo natural, quando as plantas germinam, crescem, murcham e então morrerem para dar espaço a algo novo. Os cenários pintados e ricos em detalhes e cores vibrantes chegam em um ponto onde são tomados pelo branco e desse ponto é criada uma tensão de que Neva, mais parecida com sua mãe, parece caminhar para o fim inevitável.
Os inimigos envoltos em sombra representam não apenas a morte, mas uma espécie de corrupção da ordem natural da vida, em que uma criatura reina drenando a essência das coisas para tornar a sua eterna. Um falso deus que retorna sempre na primavera para se renovar e que contrasta com o branco carregado por nós e Neva. Na hora que o jogador é posto na mesma situação do início, um ciclo criado dentro da própria história é quebrado quando, desta vez, conseguimos superar a escuridão. Diferente de sua mãe, Neva morre sem ser corrompida pelas trevas e pode completar sua passagem para o outro mundo de forma plena e dar espaço à vida. Ao distanciar-se de "Gris", esse jogo acaba também falando sobre o que há além da morte e como podemos encontrar beleza nela em uma boa experiência de narrativa visual e gamplay condensados em uma experiência de duas horas. Uma obra eficiente em passar suas mensagem e sensibilizar seus jogadores. "Neva" parece solidificar a Nomada dentro desse mercado predatório que é a industria de videogames e me faz ter grandes espectatívas para o futuro do estúdio.
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